O presidente dos Correios apresentou pedido de demissão nesta quinta-feira, após a divulgação de um prejuízo superior a R$ 2 bilhões no último exercício financeiro. A saída do executivo marca o ápice de uma crise que se arrasta há meses na estatal, envolvendo problemas operacionais, perda de market share e deterioração da qualidade dos serviços.
O prejuízo bilionário representa o pior resultado financeiro dos Correios em toda sua história centenária. Entre as principais causas estão a perda de competitividade no mercado de encomendas para empresas privadas, custos operacionais crescentes, déficit do plano de saúde dos funcionários e investimentos tecnológicos mal planejados.
A empresa, que já deteve o monopólio virtual do mercado de entregas no Brasil, viu sua participação cair para menos de 30% no segmento de e-commerce. Concorrentes privados, com operações mais ágeis e tecnologia avançada, conquistaram a preferência de grandes varejistas online, principal fonte de receita do setor.
Internamente, a situação é de desânimo entre os mais de 90 mil funcionários. Atrasos constantes no pagamento de benefícios, falta de investimento em capacitação e condições precárias de trabalho em muitas agências criaram um ambiente de desmotivação. O índice de afastamentos por problemas de saúde mental cresceu 40% no último ano.
O plano de recuperação apresentado pela gestão anterior, que previa corte de custos através de demissões voluntárias e fechamento de agências deficitárias, mostrou-se insuficiente. A redução de pessoal impactou negativamente a qualidade do serviço, gerando ainda mais perda de clientes e receita.
Consumidores relatam problemas crescentes com entregas. Atrasos que chegam a meses, extravios sem explicação e dificuldades para rastreamento tornaram-se comuns. O Procon registrou aumento de 200% nas reclamações contra os Correios no último ano, colocando a empresa entre as mais reclamadas do país.
A infraestrutura tecnológica defasada é outro ponto crítico. Enquanto concorrentes utilizam inteligência artificial para otimização de rotas e previsão de demanda, os Correios ainda operam com sistemas legados da década de 1990. Tentativas de modernização esbarraram em contratos mal geridos e superfaturamento.
O papel social dos Correios, especialmente em municípios pequenos onde é a única opção de serviços postais e bancários, está ameaçado. Mais de 1.500 municípios brasileiros têm nos Correios sua única agência bancária, atendendo aposentados e beneficiários de programas sociais. O fechamento dessas unidades criaria um vácuo de serviços essenciais.
O governo federal anunciou a nomeação de um interventor para assumir temporariamente a presidência da empresa. O escolhido tem experiência em recuperação de empresas em crise e a missão de estabilizar as operações enquanto um novo modelo de gestão é desenvolvido.
Entre as medidas emergenciais estudadas estão a injeção de capital pelo Tesouro Nacional, estimada em R$ 3 bilhões, renegociação de contratos com grandes clientes, modernização acelerada da frota e dos sistemas, e possível abertura de capital mantendo controle estatal.
Sindicatos dos trabalhadores dos Correios manifestaram preocupação com possíveis privatizações ou desmembramentos da empresa. Eles defendem investimento público massivo e valorização dos funcionários como caminho para recuperação, lembrando que a empresa já foi superavitária quando tinha condições adequadas de operação.
O desafio do novo comando será equilibrar a necessidade de modernização e eficiência com a manutenção do caráter público e universal dos serviços postais. Em um país continental como o Brasil, os Correios ainda são essenciais para integração nacional e inclusão social, papel que dificilmente seria assumido integralmente pela iniciativa privada.
Fonte: Ministério das Comunicações