A Polícia Federal deflagrou na manhã desta sexta-feira uma grande operação de combate ao garimpo ilegal na Terra Indígena Sararé, localizada no estado de Mato Grosso. A ação, que mobilizou mais de 150 agentes federais, fiscais do Ibama e membros da Força Nacional, visa desarticular um esquema criminoso que devastou mais de 2.000 hectares de floresta nativa e contaminou rios com mercúrio.
A operação, batizada de ‘Guardiões da Floresta’, é resultado de seis meses de investigação que revelou uma complexa rede criminosa envolvendo garimpeiros, empresários do setor de mineração, atravessadores de ouro e até funcionários públicos suspeitos de facilitar a atividade ilegal. Mandados de prisão e busca e apreensão estão sendo cumpridos em cinco estados.
As imagens de satélite analisadas pela PF mostram a dimensão do estrago ambiental. Onde antes havia floresta densa, agora existem enormes crateras e rios completamente assoreados. Análises preliminares da água indicam níveis de mercúrio 50 vezes acima do permitido, representando grave risco à saúde das comunidades indígenas que dependem desses recursos hídricos.
O povo indígena Sararé, que habita a região há séculos, vem denunciando a invasão de suas terras e os impactos devastadores do garimpo ilegal. Lideranças relatam aumento de doenças, especialmente em crianças, relacionadas à contaminação por mercúrio, além da escassez de peixes, base da alimentação tradicional, devido à poluição dos rios.
Durante a operação, foram apreendidos 30 escavadeiras, 15 dragas, 200 motores utilizados na extração de ouro, além de aproximadamente 50 quilos de ouro em barra e R$ 2 milhões em espécie. As máquinas, avaliadas em mais de R$ 20 milhões, serão destruídas no local para evitar sua reutilização e servir de exemplo contra a atividade criminosa.
As investigações revelaram que o esquema movimentava cerca de R$ 10 milhões mensais. O ouro extraído ilegalmente era ‘esquentado’ com documentação falsa e vendido para grandes centros urbanos, de onde seguia para exportação. Empresas de fachada foram criadas para dar aparência de legalidade às transações, envolvendo contadores e advogados na lavagem do dinheiro.
A destruição ambiental vai além do desmatamento visível. Técnicos do Ibama estimam que serão necessários pelo menos 30 anos para a recuperação parcial da área, e alguns danos, especialmente a contaminação por mercúrio, podem ser irreversíveis. A biodiversidade local, que inclui espécies endêmicas e ameaçadas de extinção, foi severamente impactada.
O Ministério Público Federal já ofereceu denúncia contra 45 pessoas identificadas na investigação. Os crimes imputados incluem usurpação de bem da União, lavagem de dinheiro, organização criminosa, crimes ambientais e genocídio, este último devido ao impacto direto na sobrevivência do povo Sararé. As penas, se somadas, podem chegar a 50 anos de prisão.
A operação conta com apoio aéreo de helicópteros da Força Nacional e drones de última geração para monitoramento. A logística é complexa, dado o difícil acesso à região e a resistência esperada dos garimpeiros. Equipes médicas acompanham a operação para prestar assistência às comunidades indígenas e coletar amostras para exames toxicológicos.
Este é mais um capítulo na guerra contra o garimpo ilegal na Amazônia. Nos últimos dois anos, a PF intensificou as operações, mas os desafios permanecem enormes. A alta do preço do ouro no mercado internacional e a falta de alternativas econômicas para populações vulneráveis continuam alimentando a atividade ilegal.
O governo federal anunciou que esta operação faz parte de um plano maior de proteção das terras indígenas, que incluirá a instalação de bases permanentes de fiscalização e programas de desenvolvimento sustentável para as comunidades locais. O objetivo é criar uma barreira efetiva contra futuras invasões.
Fonte: Polícia Federal