Mais do que um atributo estético, o cabelo compõe a forma como nos percebemos e somos percebidos. Para pessoas trans, ajustar a linha frontal, densificar a barba ou preencher pontos de rarefação vai além da aparência: é um passo concreto na afirmação de gênero e na construção da autoestima. As novas diretrizes da World Professional Association for Transgender Health (WPATH-SOC 8) reconhecem a restauração capilar como uma intervenção de afirmação de gênero com potencial para reduzir a disforia e melhorar a qualidade de vida1.
No consultório, o ponto de partida é compreender como a terapia hormonal impacta o couro cabeludo. A testosterona pode acelerar a alopecia androgenética em homens trans, enquanto mulheres trans muitas vezes apresentam recessos temporais já existentes antes do início da terapia estrogênica. “Cada caso exige um desenho anatômico que respeite a identidade de gênero e os limites fisiológicos do paciente”, explica o cirurgião Dr. Márcio Volkweis, dermatologista e tesoureiro geral da ABCRC.
Para esses pacientes, técnicas como a Extração de Unidades Foliculares (FUE) ganham preferência devido à cicatriz praticamente imperceptível e à liberdade para distribuir enxertos em áreas diversas — linha frontal feminilizadora, costeletas e barba. Planejamento tridimensional, microscopia para seleção de folículos finos e abordagens híbridas (FUE + FUT) ampliam a naturalidade dos resultados. A evolução não se limita ao centro cirúrgico: formulários neutros, equipe treinada em linguagem inclusiva e protocolos de privacidade minimizam barreiras de acesso.
“A restauração capilar pode ser decisiva para que a pessoa trans reconheça no espelho um rosto coerente com quem ela é. Combinar técnica apurada a um acolhimento livre de preconceitos faz toda a diferença no desfecho clínico e emocional”, afirma Dr. Volkweis.
O especialista aprofunda o tema na palestra “A Cirurgia no Paciente Trans”, durante o I Encontro Latino‑Americano ABCRC, que acontece em 15 e 16 de agosto, em São Paulo. A sessão abordará desde a seleção da área doadora em pacientes em transição hormonal até estratégias para preservar a vascularização em cabelos submetidos à tração de perucas ou mega-hair.
Sobre a ABCRC
A ABCRC é uma associação sem fins lucrativos composta por médicos especializados em cirurgia de restauração capilar. Fundada em 1º de março de 2003, a entidade reúne cirurgiões plásticos e dermatologistas que atuam na área, promovendo atualização científica e garantindo a defesa profissional da categoria.
Referências:
1 World Professional Association for Transgender Health – “Standards of Care for the Health of Transgender and Gender Diverse People, Version 8” – Disponível em: https://wpath.org/publications/soc8/chapters/ Pág. 20 – Último acesso em 17 de julho de 2025.